quarta-feira, 2 de janeiro de 2013

Ano novo

É ano novo. Começo o dia 2 com a mesma música que apetece a trilha da vida inteira: Betinha, vem cá... Estou apaixonada. Chove no Recife. Asteróides musicais com corações alados. O dia primeiro do novo ano nasceu pitelesco. Espumante, tim-tim. Abraço apertado em mainha, nos que a gente ama. De mãos dadas, o meu bem. O primeiro passar de ano eu e ele. A gente fugiu e se adocicou, rumando a outro casal apaixonado. Em Boa Viagem, ainda dava pra ver a areia escurecida dos fogos, do alto de um prédio que ainda não tinha outro prédio na frente. MD esqueceu de tomar seu espaço. Mais espumante, tim-tim e do lado de trás um bichinho de estimação, estimando-se. Aviso para o novo ano? O primeiro ingresso do ano. Na cadeira de balanço, em um quarto branquinho. No celular, o dengo de Brigitte Bardot baiana: "te quieroooo, amor da minha vida recifense". Amiga das mais preciosas. Ai, que bem querer, minha gente. Com T recifense, por favor. A gente registrou o momento, depois de esquecer e voltar ao elevador. Woody Allen love no som do apartamento. Eu de renda meio cor de ouro, querendo que seja ainda mais de luz. E foram dois. Depois, a viagem pro Janga, a praia da região metropolitana mais distante em linha reta da América Latina. No meio do caminho, havia carros e Lenine no som. No grau. Suave. Chegamos à nave de Suca e Ricardo. Todo mundo elevado, sorria demais. Na nave, dançando, sentindo os pensamentos. Vendo o dia nascer e a foto da câmera aclarar um sol que não houvera aparecido, até então. Entre amigos e gente do bem. Esquecendo o passado que passou e guardando o que de mais lindo cultivamos. De cabelo cacheado, permaneço querendo que este novo seja massa. Ano de fazer, sobretudo. De Pinheirinho, de fazer e ir em frente, indo, indo... Com muito sol, até de noitinha.

quinta-feira, 2 de agosto de 2012

Mulher que ama

Ela gosta de ter de volta o apego e a simetria que o partilhar com o moço da alfaia hoje traz de volta. Mais do que isso, esse novo encontro a fez perceber que um dia alguém pode quebrar as predestinadas incertezas que ela escolheu para si. Pegou dentro da bolsa a foto revelada. Lá, ele e ela sorriam tão gigante que dava para ver: a pitada de amor cresceu e a sua origem de racionalizar já não pôde mais conter o sentir.

O forró na praia paradisíaca, quase particular, em algum canto do nordeste, com os coqueiros ensolarados dando bom dia e um cheiro dele no pescoço seu, entranhou-se como uma memória linda que ela gosta de ter, quando olha a janela do ônibus de volta para casa. A música tocada no violão e aquele jogo engraçado de frescobol literalmente no meio do mar desestruturou tudo e trouxe alegria.

Talvez ele não perceba, mas ela sabe que gosta até de passar frio com ele. Hoje essa história de juntar os trapos já não a assusta. Ela diz que se a pessoa que você encontrou gosta de ser feliz do seu jeito e naturalmente fazer você sorrir porque sente igual partilhando momentos escolhidos, dividir o mesmo teto é um negócio que pode ser legal. Agora ela é uma mulher que ama.

quarta-feira, 1 de agosto de 2012

Quando dói um lar



Hoje eu voltei para casa sem aquela pulseira, mas com o coração carregado de coisas que eu não sei bem dizer. É sempre assim, quando a realidade tira a gente do brio: faltam palavras. O motivo? Uma pauta. Dessas que você sabe que vai sentir forte, mas que não imagina até onde vai te atingir por dentro. O trabalho era ir até um prédio desativado do IBGE, no Centro da cidade, que há sete meses serve de moradia para cerca de 150 famílias sem teto, e mostrar quem são essas pessoas, dar rosto a elas e reportar a realidade. Gente que você provavelmente não ouviu falar a não ser por causa do ato de protesto que "parou a avenida Conde da Boa Vista", às seis horas da manhã desta terça-feira. Gente que dorme com medo e faz questão de gritar: não somos bandidos. Gente que vive vigiando o portão de entrada e compartilhando um espaço decadente.

O desejo é um só. Este que assola e virou, já faz tempo, o problema mais gritante deste país: a moradia. O direito a um lar perdeu-se no espaço para muitos, que SIM, sem alternativas, ocupam terrenos irregulares e se abrigam em condições degradantes. A escolha, se houvesse o poder de fazê-la, certamente não seria estar ali. Eu entendi e passei a ter ainda mais certeza disso por causa daquelas quase setenta crianças que moram lá. Meninos e meninas que não têm sandália, mas um dom de receber que dá vontade de sorrir, mesmo com tudo tão escancaradamente triste. Quando pude entrar, disseram que eu era bonita e queriam tocar nos meus cabelos. Eu sabia que precisava ir rápido, afinal ainda havia outra pauta, mas o quanto pude escutá-las e sentir aquela euforia descabida, parece o tempo ter me paralisado.

Desde a minha ida ao Pinheirinho, lá em São José dos Campos, pouco tempo depois de cerca de oito mil família serem tiradas violentamente do lugar que cativaram e que por isso tornou-se delas, eu não sentia aquilo. Os olhos das crianças dizem tudo e doem. Abrãao estava entre eles e enquanto todos os outros acompanhavam a mim e ao cinegrafista André, ele nos filmava, com um pedaço de câmera quebrado. Perguntei a o que queria ser quando crescer e o menino, de uns nove anos, não teve dúvida: quero ser câmera man. Marimar também era  uma moça doce e sonhadora, assim como a estrela da novela mexicana que inspirou seu nome. Acho que tinha uns doze anos e não parava de sorrir. A não ser quando teve que me dizer que no ato da Boa Vista uma marca ficou: a boca cortada, quando ela foi se meter na frente do policial que queria pegar o seu pai. Dentre todas, porém, Paloma mexeu demais sobre o que tudo aquilo ali simboliza. Ela, uma menina de uns seis anos, dos cabelos cacheados, de uma banguelinha no sorriso e olhos castanhos que brilharam forte, quando me olhou no primeiro momento. Em meio a timidez, me chamou no canto e disse: "Nathália, posso te perguntar uma coisa?". Eu:"claro!"... Paloma começou:

-Tu tem casa?
- Tenho.
- Tu tem mãe?
- Tenho sim, Paloma.
- Tu tem roupa bonita?
- (Eu já não consegui mais responder.)

Mas ela continuou...
- Então abaixa aqui, deixa eu falar uma coisa no teu ouvido. Quando tu não quiser mais uma roupa, tu me dá? Porque se não servir mais pra tu, eu vou ficar muito feliz.

Eu respondi que sim e prometi que voltaria lá. Na hora de ir embora, ela abaixou, me deu um beijo na bochecha e pegou no meu braço. Nele, estava uma pulseirinha que já tinha há algum tempo. Paloma achou linda e eu disse que era dela. Isso não é nada, mas naquele momento o sorriso da pequena  se agigantou tanto, que eu não poderia esquecer. Antes de ir, Izabel pediu meu papel para mostrar que sabia escrever o nome. Dei tchau para todos rodeada de muitos abraços e um pedido de volta logo. Eu não poderia não cumprir essa promessa. Quero ir abastecida de amor, de gente e do que os possam fazer felizes, mesmo que ainda falte tanto, muito, tudo.


Escrito em 31 de julho de 2012, terça-feira.

sexta-feira, 13 de julho de 2012

Delírios interestaduais

É sábado. Afora a minha chegada nada triunfal de pontas de pé, depois de um vinho de sexta-feira, como não se espreguiçar? No quarto, a cama bagunçada de sempre. No celular, o alô da amiga do frio amado, desgraçado e poético de Curitba. Recife chuvoso em dia de reportar a rua dessa linda cidade infernal, visceralmente contraditória em mim. Dia de esgotar o que não se esgota, que já está do lado de dentro. Sábado de duas e oito da manhã e de muitos adjetivos. Seja o escroto galego dos longos cabelos, que me tirou do bolso recursos imaginários: delírios espaciais. Só pode.

Conexão interestadual a todo vapor. É o que me mantem viva. Amanhã a loirinha vai tocar o primeiro maracatu , oficialmente, na terra dos oito graus. Ela precisa de uma saia branca. A garotinha cantora está com catapora, mas já saúdo melhoras pelo cair das casquinhas. Em São Paulo, a moça da hamburgueria, da Vila Mariana, está bem feliz com a vitória do Palmeiras, tirando a crise renal e o furo na veia. Em São José, as mães do Pinheirinho lutam para não serem esquecidas. Não poderiam. O moço do cabelo cacheado e monociclo inseparável não havia de deixar. A fotógrafa do coração celebra a segunda foto na capa do jornal. As câmeras analógicas permanecem na casa da amiga carioca que está em turnê apaixonada pela Itália. No Rio, o artista plástico está a toda com suas exposições. Os brincos de pérola continuam na cabeceira. Em Santo André, mais uma amiga jornalista com diploma. O lindo segue amanhã para tomar posse de seu novo emprego, numa cidade próxima. Meu irmão deu uns tempos de Campina Grande e acabou de vir ao meu quarto, ouço Bob Dylan e sorrio com os olhos, pelo amor. Estiquei os braços e dei um gritinho. Ele achou que era pesadelo. Hoje não, irmão. Hoje não.




Foto de Bruna Monteiro

segunda-feira, 25 de junho de 2012

Vezenquando queima

Quando a gente escolhe no som a música que doa menos. Que doa menos a escolha errada. Que doa menos o não para sempre. Príncipes existem, mas dói quando eles não nos apetecem por inteiro. Dói em mim agora. Eu nunca deixei de sentir. Deserto feliz às vezes basta. Mas imensidão de bem-querer se não pulsar, dói. Dói não querer-te por inteiro. Porque tu inteiro és amor. Em mim és amor em boa parte. Em mim o encontro veio desconexo. Eu não tenho chão. Queria poder sentir contigo, do mesmo jeito. A gente seria feliz, eu sei. Mas essas asas que tu tanto sabes me moverem já me fizeram escrava. A pauladas eu vivo. E dói. Vezenquando até queima.
O da tua orelha ainda dói em mim.

sábado, 9 de junho de 2012

Compilação do eu

"Gente sente tudo! Gente tem que se envolver. A gente é emoção"."O que lembro, tenho". Compilação do eu. Somos todos escravos de nossa própria intensidade.